Gravações mostram ‘técnicas’ para venda de carnes podres

Gravações telefônicas interceptadas pela Polícia Federal mostram um esquema de venda de carnes podres de frigoríficos brasileiros para o mercado doméstico e externo.
A operação “Carne Fraca”, deflagrada nesta sexta (17) pela PF, investiga uma suposta organização criminosa liderada por fiscais agropecuários do Ministério da Agricultura, que, com o pagamento de propina, facilitavam a produção de produtos adulterados, emitindo certificados sanitários sem fiscalização.


Alguns dos maiores frigoríficos do país, como JBS, BRF e Seara são alvo da operação. O ministro da Justiça, Osmar Serraglio, também aparece na investigação em uma conversa interceptada com o suposto líder do esquema criminoso, o qual chama de “grande chefe”. A PF, no então, não vê irregularidades na atuação do ministro.


Frigoríficos menores também aparecem na investigação, como o Peccin, com sede no Paraná. Em uma das conversas interceptadas, um dos donos da empresa e a mulher discutem o uso de carne de cabeça de porto em linguiças, o que é proibido pela legislação.


Em outra gravação, os sócios do frigorífico discutem como reaproveitar um presunto que, embora podre, “não tem cheiro de azedo”, e por isso poderia ainda ser vendido. Em outra, combinam adicionar ácido sórbico a amostras de carne enviadas para análise de qualidade para que elas não sejam reprovadas pela fiscalização.


A reportagem não conseguiu entrar em contato com a empresa.


VEJA AS TRANSCRIÇÕES


– Conversa entre os irmãos Normélio Peccin e Idair Piccin, sócios do frigorífico Peccin:


Normelio – Tu viu aquele presunto que subiu ali ou não chegou a ver?


Idair – Ah, eu não vi; Cheguei lá, mas o Ney falou que tá mais ou menos. Não tá tão ruim.


Normelio – Não, não tá. Fizemos um processo, até agora eu não entendo, cara, o que é que deu naquilo ali. Pra usar ele, pode usar sossegado, não tem cheiro de azedo, nada, nada, nada.


– Conversa entre Idair Piccin e a mulher, Nair Piccin, sua mulher:


Idair – Você ligou?


Nair – Eu, sim eu liguei. Sabe aquele de cima lá, de Xanxerê?


Idair – É.


Nair – Ele quer te mandar 2.000 quilos de carne de cabeça. Conhece carne de cabeça?


Idair – É de cabeça de porco, sei o que que é. E daí?


Nair – Ele vendia a 5, mas daí ele deixa a 4,80 para você conhecer, para fechar carga


Idair – Tá bom, mas vamos usar no que?


Nair – Não sei


Idair – Aí que vem a pergunta né? ‘Vamo’ usar na calabresa, mas aí, é massa fina é? A calabresa já está saturada de massa fina. É pura massa fina


Nair – Tá


Idair – Vamos botar no que?


Nair – Não vamos pegar então?


Idair – Ah, manda vir 2.000 quilos e botamos na linguiça ali, frescal, moída fina


Nair – Na linguiça?


Idair – Mas é proibido usar carne de cabeça na linguiça


Nair – Tá, seria só 2.000 quilos para fechar a carga. Depois da outra vez dá para pegar um pouco de toucinho, mas por enquanto ainda tem toucinho [ininteligível]


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