Os últimos anos têm sido complicados para Anderson Silva. Após quebrar a perna na revanche contra Chris Weidman, em dezembro de 2013, o ex-campeão dos pesos-médios demorou mais de um ano para voltar a lutar, recebeu um ano de suspensão ao falhar em exames antidoping consecutivos, foi forçado a desistir de uma luta em Curitiba com uma semana de antecedência por causa de uma cirurgia na vesícula biliar, e aceitou enfrentar Daniel Cormier em julho passado com dois dias de antecedência, em substituição a Jon Jones.
No próximo sábado, o lutador paulista estará de volta ao octógono após aceitar mais uma luta com pouco tempo de preparação, apenas um mês, contra Derek Brunson, no UFC 208, em Nova York. Preparador físico da lenda, o treinador Rogério Camões justificou a decisão por embarcar no combate pela vontade exibida pelo pupilo, o que o deixa confiante para um retorno do atleta aos seus melhores dias.
– Graças a Deus, o Anderson está indo para essa luta sem problema, sem lesão, 100%, com uma motivação que parece o começo, parece um garoto que queria muito lutar. Ele está a fim dessa luta. Quando chegou no Rio, estava a fim dessa luta, e aí apareceu a oportunidade de Nova York, um mês (antes), e ele: “Mas quero lutar”. Um dos principais fatores que o atleta precisa é motivação. Quando o cara está motivado desse jeito, esquece… Acredito que, pelo adversário, vai ser uma boa luta. O garoto é confiante, é novo, é explosivo, vem para dentro, é o tipo do adversário bom para o Anderson, que é um cara de contragolpe, um cara que pega no ataque, daqui a pouco ele tira uma da cartola. Isso também facilita a estratégia da luta, porque o Anderson dança conforme a música. Ele tem uma estratégia, mas dentro da luta ele vai criando as estratégias dele, e a gente sabe como ele vem. Isso vai trazer de novo “aquele” Anderson, o Spider. Acho que a gente vai ver o Spider dessa vez – disse o cabeça da XGym em entrevista ao Combate.com.
A responsabilidade sobre Camões neste camp é enorme: apenas um mês para preparar um lutador de 41 anos de idade para enfrentar um adversário oito anos mais jovem. Contudo, o técnico garante que o longo histórico de trabalho conjunto com Anderson facilita o processo.
– Depois do que ele demonstrou ao lutar com Daniel Cormier sem treinar, 46 dias depois de uma cirurgia… Quando ele comunicou essa luta, pensei: “Você lutou sem treinar, então dá para fazer, não tem essa, vamos lá”. A verdade é que o Anderson tem um lastro fisiológico de treinamento muito grande, tanto físico, como técnico, como tático. Isso hoje é o que mais conta para o Anderson, é o que ele plantou e os frutos que colhe hoje em termos de preparação física, de treinamento, de luta, de MMA, ou o que seja. Isso (falta de tempo) não é um problema. Hoje se torna mais fácil treinar o Anderson do que há alguns anos. No começo, tive que fazer a base. Hoje o que me ajuda é que a base dele foi muito forte comigo. Assim que ele chegou para se preparar, falei: “Você chegou num ponto hoje, com 41 para 42 anos, depois de dez anos juntos, que o nosso trabalho é voltar para a base. Como você já fez isso durante um tempo e ela é muito forte, é o trabalho mais fácil. O trabalho que a gente vai fazer para essa luta é estimular sua memória, questão neural principalmente, porque está tudo armazenado”. É só estimular e não criar nada novo. O que vou criar para um cara como Anderson de novidade? O trabalho tem sido maravilhoso, porque em semanas ele progrediu muito, porque ele já fez muito isso – analisou.
Outro lutador sob os cuidados de Camões é Ronaldo Jacaré, que também luta no UFC 208, contra Tim Boetsch. A última luta do capixaba de 37 anos foi em maio passado, contra Vitor Belfort; desde então, passou por cirurgia no joelho, teve uma luta contra Luke Rockhold cancelada e foi ordenado a bater o peso em novembro para ficar de opção caso Chris Weidman ou Yoel Romero fossem forçados a deixar o UFC 205. O preparador físico diz que a mentalidade de Jacaré o protege de se abalar com a “montanha russa” dos últimos meses.
– Acredito que isso é um pouco complicado para um atleta que está começando. O Ronaldo é um competidor não só de MMA, lá atrás no jiu-jítsu competia toda semana, ele é um competidor. É a grande diferença do Ronaldo. Posso comparar o Ronaldo a um atleta de wrestling olímpico, como Yoel Romero, é um competidor, é diferente. São semelhantes, são caras que vão lá e lutam. O Jacaré não entra para lutar, ele entra para competir, ele é competidor nato.
O que ele tem de lastro competitivo é muito grande e, às vezes, maior do que a maioria dos caras que estão hoje na categoria dele, isso faz uma diferença.
O cara está acostumado a competir, está acostumado com a adrenalina. Para ele, a coisa de se preparar e não ter a luta, não é bom, mas não altera, porque ele é um competidor, está acostumado com isso. Está acostumado a chegar num campeonato de jiu-jítsu às 9h e lutar às 23h. Ele não tem essa adrenalina, não interfere na cabeça dele, já está preparado para essas situações de estresse, tanto física como mentalmente.
O Combate transmite ao vivo com exclusividade todas as lutas do UFC 208 deste sábado. Confira o card completo:
UFC 208
11 de fevereiro, no Brooklyn (EUA)
CARD DO EVENTO (até o momento):
Peso-pena: Holly Holm x Germaine De Randamie
Peso-médio: Anderson Silva x Derek Brunson
Peso-médio: Ronaldo Jacaré x Tim Boestch
Peso-meio-pesado: Glover Teixeira x Jared Cannonier
Peso-leve: Dustin Poirier x Jim Miller
Peso-mosca: Ian McCall x Jarred Brooks
Peso-mosca: Wilson Reis x Yuta Sasaki
Peso-médio: Ryan LaFlare x Roan Jucão
Peso-leve: Nik Lentz x Islam Makhachev
Peso-pena: Rick Glenn x Phillipe Nover
Combate