O Departamento Científico de Nefrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria emitiu um Documento Científico abordando a infecção do trato urinário
Existem quadros em crianças que são de difícil avaliação, tratamento e acompanhamento. Pais incomodados e preocupados com seus filhos juntam os “sintomas” (febre + choro + falta de apetite + sono ruim + irritabilidade +diarreia + vômitos + crianças), vão ao “Dr. Google” e saem com uma imensa lista de possíveis diagnósticos (amigdalite, otite, infecção urinária, anemia, gripe, virose, dentre outros).
“E, a partir daí, começa a incansável busca de ‘tratamentos’, muitas vezes, sem uma consulta médica com o especialista (pediatra em consultório, ambulatório ou pronto-socorro) e o tempo perdido nesse caminho pode fazer toda a diferença na evolução do quadro”, afirma o pediatra e homeopata Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).
Antes de tudo, é fundamental que toda criança tenha acesso a atendimento com seu especialista (PEDIATRA) sempre que houver necessidade. “Os especialistas (otorrinos, pneumologistas, alergistas, por exemplo) só devem ser acessados após a consulta com o MÉDICO DA CRIANÇA = PEDIATRA”, esclarece Chencinski.
Infecção urinária
Muitas doenças podem se manifestar através de poucos sintomas ou de sintomas inespecíficos ou que variam de acordo com a idade da criança. E aqui vamos abordar uma delas: a infecção do trato urinário (ITU).
O Departamento Científico de Nefrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria emitiu um Documento Científico abordando a ITU, alertando para a importância do diagnóstico e do tratamento precoces e adequados e do bom acompanhamento para avaliar, prevenir e/ou tratar as causas ou complicações decorrentes desse quadro.
“O documento aponta que a ITU seja, provavelmente, a infecção bacteriana mais prevalente no lactente e que seu diagnóstico precoce previne a formação e a progressão de cicatriz renal, principalmente no neonato e lactente que pode levar como consequência, numa fase mais tardia, à hipertensão e/ou insuficiência renal crônica”, destaca o pediatra.
Saiba mais…
Moises Chencinski explica que “a urina e o trato urinário são normalmente estéreis, mas a região do períneo, da uretra de neonatos e lactentes, além do prepúcio de meninos não circuncidados, está colonizada por bactérias que, se ultrapassarem as defesas locais dessa região do corpo das crianças podem causar a ITU”.
A questão é que os sintomas da ITU podem variar de acordo com a idade, sendo que em crianças menores eles são mais inespecíficos. “A febre é o sintoma mais frequente no lactente, mas irritabilidade, recusa alimentar, icterícia, distensão abdominal e baixo ganho de peso devem ser levados em conta”, diz o pediatra, que é membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Somente após os dois anos de idade é que costumam ser mais frequentes os sintomas mais relacionados ao trato urinário inferior como disúria (dor ao urinar), polaciúria (urinar muitas vezes em pequena quantidade), enurese (em crianças que já apresentavam controle esfincteriano prévio) e tenesmo (espasmo e dor na hora de urinar que atrapalha).
“O diagnóstico é feito através de exames de urina, mas o exame de urina simples não substitui a urocultura, apesar de apresentar alterações que permitem iniciar precocemente o tratamento, já que resultados da cultura podem demorar entre 24 e 72 horas para serem obtidos”, diz o médico.
A coleta inicial costuma ser feita através de saco coletor, mas vários estudos mostram resultados falsos positivos em até 80% dos casos e, portanto, só devem ser valorizados quando a cultura resultar negativa (ou seja, não for infecção urinária).
A coleta de urina por sonda vesical é a opção mais segura e simples, e a presença de crescimento bacteriano caracteriza a presença de ITU. Já em crianças que apresentam controle da urina, o método de coleta recomendado é a urina de jato médio, após assepsia.
“Assim, é importante reforçar que o tratamento de uma ITU bacteriana é SEMPRE por meio de antibióticos adequados, receitados de acordo com o tipo de bactéria, a faixa etária e o estado geral da criança, por tempo adequado, com o acompanhamento apropriado e exames de controle colhidos (exames de urina e possível pesquisa por imagens) a partir de uma semana depois de terminado o tratamento”, destaca Chencinski.
Outras recomendações
É fundamental também afastar a possibilidade de malformações do trato urinário que tenham contribuído para a instalação da ITU e, para isso o pediatra pode usar o diagnóstico por imagem: ultrassom, cintilografia, uretrocistografia miccional.
“Uma ITU não tratada a tempo, de forma adequada, sem que se faça uma avaliação de suas possíveis causas, desde a primeira infecção, tanto em meninas, quanto em meninos, pode evoluir de forma silenciosa para complicações muito graves (insuficiência renal)”, destaca o pediatra.
O Documento Científico publicado, recentemente, no site da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) reforça esse posicionamento: “O diagnóstico e a instituição precoce da terapêutica, além de correção de malformações associadas, melhoraram em muito o prognóstico destas crianças”.
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