Com cronograma de entrega de casas no conjunto habitacional Cidade do Povo atrasado, projeto do governo do Acre, os moradores do bairro Taquari, em Rio Branco, os remanescentes que aguardam ser retirados do bairro, vivem em meio ao abandono, falta de energia, lixo acumulado e violência generalizada, sem qualquer providência sendo tomada pelas autoridades.
Em matéria exclusiva da Folha do Acre, os moradores do bairro mais pobre do Segundo Distrito da capital acreana denunciaram o drama que vivem de forma agravada após o início do processo de desocupação do bairro.
“Nem nos deixaram juntos e nem levaram todo mundo. Aqui já era um bairro morto, sem vida, agora está desolado completamente”, denunciou um dos moradores em entrevista concedida na última quarta-feira (18).
Além do cronograma de retirada atrasado, os moradores que permanecem no bairro Taquari tem que lidar diariamente com a ausência de todos os serviços que deveriam ser prestados pelo poder público.
O que se vê ao andar pelas ruas e becos do bairro é o suficiente para provar o abandono em que o local está mergulhado. Terremos baldios tomados por mato, caçimbas onde proliferam mosquitos transmissores de doenças como dengue, zika e chikunguia, além do mato que toma conta das ruas.
“Todo mundo por aqui já pegou dengue pelo menos duas vezes, sem contar as outras doenças que estamos sujeitos, aos insetos que tomam conta das ruas”, diz Raimundo Freitas, 36 anos, morador do local, que aguarda ser retirado para outra moradia.
Raimundo conta com tristeza que desde 2012, quando as primeiras famílias do Taquari foram contempladas com casas populares, que o Estado deixou de fazer qualquer tipo de investimento no bairro. Segundo ele, nem mesmo o básico como limpeza e iluminação pública foram mantidos.
Os comerciantes do local, autônomos sem qualquer tipo de apoio ou incentivo estatal, fecharam as portas de seus estabelecimentos que lhes garantiam o sustento de suas famílias.
O retrato de abandono do bairro pode ser medido pelo esquecimento de obras públicas que custaram caro aos cofres públicos e que atualmente se encontram fechadas, como é o caso da lavanderia comunitária do bairro.
Entregues à propria sorte e sem receber da Secretaria de Habitação nenhum tipo de perspectiviva para serem retirados do local, os moradores do Taquari se viram como podem e realizam atividades que caberia ao Estado como é o caso da promoção do Esporte e Lazer.
O morador Márcio Marcelo afirmou que todas os moradores se reúnem e realizam atividades esportivas. “A gente mesmo se vira e tenta melhorar nossa vida”, diz.
Segundo os moradores do Taquari, nem mesmo os serviços de saúde foram mantidos. Raimundo Freitas afirma que desde junho de 2016 que não há dentistas e clínico geral atendendo no posto de saúde do local, a Unidade Básica de Saúde Maria de Jesus Andrade.
“Sem médico por aqui os moradores têm que enfrentar o escuro e o medo para sair de casa às 3:30 horas da manhã para ir até a Unidade de Referência Cláudia Vitorino, que fica no bairro Triângulo. Quem chegar depois desse horário dificilmente consegue ficha para ser atendido”, diz.
Cansados de aguardar por uma ligação ou visita de representantes da Secretaria de habitação, os moradores do Taquari esperam pela próxima enchente que se anúncia. Vanusa de Castro, que mora no bairro há mais de 15 anos, relata que cansou de tantas promessas.
“Toda alagação é a mesma coisa, eles vêm e prometem um monte de coisas, mas depois esquecem e voltamos para nossa luta”, diz.
Caso semelhante é o da dona de casa Maria Elzia, 42 anos, que resiste a morar no bairro com 5 filhos e a coragem de quem enfrenta o mesmo drama há longos anos.
“Estou aguardando ser chamada, contemplada por uma casa na Cidade do Povo há 4 anos”, diz.
Folha do Acre