Os americanos se sentem mais confortáveis com o uso de tortura em guerras do que cidadãos de países em conflito como os afegãos, sírios, iraquianos e sudaneses do sul.
Nos Estados Unidos, 46% acreditam que um inimigo capturado possa ser torturado para se obter informações importantes, enquanto 30% acham que não. O número só é inferior ao da Nigéria (70%) e Israel (50%).
Esses são alguns dos resultados do levantamento “Vozes da Guerra”, uma pesquisa do CICV (Comitê Internacional da Cruz Vermelha) com mais de 17 mil pessoas, realizada entre junho e setembro de 2016, em 16 países.
Dez dos países estavam passando por conflito armado na época que a enquete foi feita, entre eles Iraque, Afeganistão, Sudão do Sul, Nigéria, Palestina.
Foram ouvidas também pessoas nos cinco países que são membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (França, Estados Unidos, China, Rússia e Reino Unido) e na Suíça.
A pesquisa mostra que a tolerância ao uso da tortura vem aumentando -em 1999, 66% eram contrários à tortura, número que caiu para 48% no levantamento atual.
“O clima de medo dos últimos 5 a 10 anos fez com que o tabu em torno do uso da tortura diminuísse; as pessoas acreditam estar sob ataque constante, por isso, para eles, qualquer meio de defesa é permitido”, disse à Folha Vincent Bernard, editor-chefe da publicação oficial da Cruz Vermelha.
A pesquisa traz também dados animadores. Para 82% das pessoas, atacar hospitais é inaceitável, e para 67% as convenções de Genebra são importantes para impor limites à guerra.
As convenções de Genebra têm como objetivo a proteção de civis, prisioneiros e feridos durante conflitos. A legislação humanitária estabelece que não se podem atacar hospitais e profissionais de saúde durante guerras; é necessário permitir a entrada de medicamentos, são vedados o ataque a cidades desprotegidas, a tortura ou tratamento desumano de prisioneiros.
Nos últimos anos, as leis humanitárias vêm sendo sistematicamente violadas, especialmente no conflito da Síria, onde hospitais frequentemente são alvo de bombardeios, e civis têm acesso bloqueado a medicamentos e alimentos.
Com os conflitos atingindo níveis chocantes de brutalidade, muitas pessoas passaram a achar que a morte de civis é parte inevitável da guerra. Em 1999, data da pesquisa anterior da Cruz Vermelha, 68% dos entrevistados achavam que atacar inimigos em cidades populosas como forma de enfraquecer seu oponente, mesmo sabendo que levará à morte de muitos civis, é errado, e 30% achavam que era simplesmente parte da guerra. Em 2016, 59% disseram que é errado mirar cidades cheias de civis, enquanto 34% acreditam que é parte do conflito. Com informações da Folhapress.