A diretoria do Sindicato dos Médicos do Acre (Sindmed-AC) encontrou graves falhas e o desperdício de dinheiro no sistema público de saúde de Cruzeiro do Sul, em visitas realizadas entre os dias 26 e 27 de novembro, aos hospitais da cidade. Na relação de problemas está a falta de neurocirurgiões, pediatras, ginecologistas até a ausência ou deficiência do fornecimento de produtos elementares, como instrumentos para o atendimento ginecológico, brocas, seringas e soro fisiológico. A situação resulta em sequelas ou mortes que poderiam ser evitadas.
Entre os casos mais graves está a utilização do Tratamento Fora de Domicílio (TFD) para casos de pessoas com trauma crânio encefálico (TCE), lesão grave dentro da cabeça, em que a intervenção cirúrgica depende especificamente de atendimento imediato. O transporte resulta em demora que prejudica o tratamento, agravando a situação.
“São milhões de reais gastos por ano apenas com o TFD de Cruzeiro do Sul para Rio Branco, dinheiro jogado pelo ralo, porque a pessoa com TCE acaba morrendo ou tendo sequelas graves. A população do Juruá precisa de neurocirurgiões atendendo no Hospital do Juruá para evitar essas mortes, além de gerar economia para o Estado”, afirmou a diretora do Sindmed, Jacqueline Fecury.
Outro problema detectado foi a não utilização da mão de obra especializada em ginecologia para realização de procedimentos para o tratamento de neoplasia intraepitelial cervical (NIC), que atenderia as mulheres diagnosticadas com câncer colo do útero.
“Apesar de existir profissionais em Cruzeiro do Sul, as pacientes são enviadas também pelo TFD por falta de material próprio para o procedimento, o que onera também o Estado. Com uma gestão otimizada isso se soluciona, por isso vamos encaminhar mais um apelo pela melhoria da saúde”, explicou Jacqueline Fecury.
Falta de médicos
Além dos gastos desnecessários, a falta de médicos deve se agravar ainda mais no final do ano, principalmente na Maternidade de Cruzeiro do Sul, onde há risco de existir plantões sem pediatras e ginecologistas. O motivo para o agravamento da situação está na forma de contratação precária, sem concurso público, resultando em sobrecarga dos profissionais existentes, deixando médicos presos em plantões de mais de 48 horas, o que aumenta os riscos para o paciente e para o trabalhador.
“O sindicato foi alertado que a escala de dezembro não está fechada: em diversos dias não haverá médicos para atender a população, situação que poderá se agravar nos próximos anos, pois alguns servidores estão tão cansados que preferem pedir demissão. Há mais de três anos, o Sindmed vem notificando o Estado sobre a escassez de profissionais, mas a solução encontrada pelos gestores, até então, é unicamente o envio de médicos de Rio Branco. Ocorre que, por vezes, as condições climáticas não permite as viagens aéreas e a maternidade fica desassistida”, advertiu o presidente em exercício, Murilo Batista dos Santos Filho.
Na maternidade, um pediatra é obrigado a fazer o trabalho de dois profissionais, atendendo a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e os partos, colocando em risco os recém-nascidos, já que o servidor só pode atender a um caso por vez.
Com tantos problemas, as consultas e procedimentos eletivos, aqueles que são agendados com antecedência, continuam suspensos por falta de profissionais.
Os problemas já foram alvo de diversos alertas, o que incluiu a denúncia realizada em agosto, apontando que em outubro faltariam obstetras e pediatras, o que acabou confirmado pelo Ministério Público do Estado (MPE). Houve uma situação em que o cirurgião geral, na falta de obstetra na cidade, realizou uma cesárea procedimento de especialidade do obstetra.