Uma pesquisa divulgada recentemente apontou que meio milhão de brasileiras passaram por aborto ilegal em 2015. O estudo, feito pela Anis – Instituto de Bioética, consultou 2.000 mulheres, com idades entre 18 e 39 anos, e que vivem em áreas urbanas do país. Os números são altos.
“O que nós podemos afirmar é que, até os 40 anos, uma em cada 5 mulheres brasileiras já fez pelo menos um aborto”, disse ao programa Fantástico, da TV Globo, Debora Diniz, antropóloga da UnB.
“Essas mulheres estão comprando medicamentos nos mercados clandestinos. Cada vez menos elas procuram as clínicas clandestinas e os serviços de saúde para finalizar o aborto. Nós não sabemos muito bem porquê. Uma hipótese é que o uso dos medicamentos está sendo suficiente para elas abortarem em caso, a segunda é que elas podem estar com medo dos médicos e de uma denúncia policial”, completou Debora Diniz.
No fim de novembro, o Papa Francisco autorizou os padres da igreja católica a perdoarem mulheres que tenham feito aborto. Na última terça (29) uma decisão do STF teve como base o entendimento que o aborto, até o terceiro mês de gestação, não deve ser considerado crime.
Mas de acordo com um especialista, a decisão só vale, especificamente, para o caso que for julgado, mas a decisão do Supremo deve influenciar outros juízes na hora de julgar casos de aborto.
“Se essa decisão em outros caso for levada ao Supremo e se repetir e se outros ministros do Supremo tomarem a mesma decisão, aí sim haverá uma tendência firmada neste sentido”, afirmou o criminalista Paulo Freitas, também em entrevista ao Fantástico.
MAIORIA JÁ TINHA FILHO
A maioria das mulheres que abortaram no ano passado (67%) já tinha filhos, segundo a pesquisa do Instituto de Bioética.
“Nós podemos entender que a mulher que faz aborto, não é aquela que imaginamos: ‘menina, inconsequente, prostituta’. Ela é uma mulher comum que sabe o que está fazendo”, acrescenta Diniz, que ressalta ainda que “em todas as classes sociais abortam igualmente”.
O ministro da Saúde, Ricardo Barros, também falou sobre a questão com o Fantástico. “É um caso grave de saúde pública e nós devemos apoiar essas mulheres”.