Os índios Poyanawas, de Mâncio Lima, no interior do Acre, tentam comprar um pedaço de terra que, segundo eles, seria o “espaço sagrado” onde viveram seus ancestrais. Eles alegam que perderam o espaço durante uma demarcação de terras feita em 2000. De acordo com a Fundação Nacional do Índio (Funai), a aldeia é demarcada em 27 mil hectares e possui de 650 a 700 indígenas e diz que revisão da área não é favorável.
O coordenador da Funai na região, Luiz Souza, explica que a área ficou fora na demarcação por um erro na época e que agora a revisão de limites das terras não é uma prioridade.
“O contexto hoje não é favorável à revisão de limites de áreas demarcadas. Os Poyanawas estão fazendo essa campanha para adquirir esse território onde está a origem deles. Existem cerca de 400 processos fundiários e a revisão de limites não é prioridade. O que caminha a passos lentos é a demarcação de áreas para povos que ainda não têm área demarcada”, explica.
A área que eles querem adquirir é o seringal Laje, que tem cerca de 11 mil hectares, localizado entre os municípios de Rodrigues Alves e Mâncio Lima.
“No tempo da demarcação da terra, que aconteceu no dia 18 de maio de 2000, a terra sagrada ficou fora. A moradia dos nossos ancestrais ficou fora. Hoje essa terra pertence a um proprietário particular, estamos conversando com ele e com a comunidade, trabalhando na expectativa de preservar essa aldeia sagrada que é patrimônio mais importante para nosso povo. Foi lá onde nosso povo surgiu, foi onde Deus fez esse povo que está aqui na terra”, explica o líder da tribo, Luiz Poyanawa, de 37 anos.
O cacique da tribo, Mário Poyanawa, de 73 anos, explica que foram muitos anos de luta até que a terra onde os indígenas vivem agora fosse considerada deles. Procurado pelo G1, o atual dono das terras disse que não vai falar sobre o assunto.
“Fizemos um projeto, falamos com liderança da Funai, que fez um novo levantamento e quando foi em abril de 1984 começamos a lutar por nossa terra. Em 2000 conquistamos a demarcação de nossa área”, relembra.
Até então, o cacique conta que os indígenas viviam subjulgados pelos donos das terras. Porém, foi durante a demarcação que a “terra sagrada” teria ficado de fora da área indígena. Este ano, a tribo passou a encabeçar um projeto com ramificação internacional.
Projetos
Luiz Poyanawa, de 37 anos, conta que está sendo produzido um CD com músicas da tribo e também um documentário que revela a convivência na tribo. A ajuda veio de Barcelona.
“O CD será duplo na linguagem tradicional e português. Paralelo a isso, estamos gerando um documentário que se refere à convivência dos Poyanawas. A ligação que temos com a comunidade e os avanços sociais que aconteceram nos últimos anos. Preservando a natureza e a forma que avançamos no mundo cultural, tradicional e espiritual do povo Poyanawa”, explica o líder indígena.
Ele também enfatiza que a recuperação do espaço sagrado vai muito além dos interesses da tribo. Segundo ele, a intenção é preservar uma parte natural importante para o Vale do Juruá.
“Não é só aldeia sagrada do povo Poyanawa. Lá ficam as principais nascentes dos rios e igarapés da região. Nós queremos preservar estas nascentes, não só para nosso povo, mas de toda a região do Juruá. Espero que as pessoas possam entender o trabalho que estamos fazendo”, destaca.
A intenção é que, com ajuda do documentário e do CD, através da internet, eles consigam arrecadar o dinheiro para comprar o espaço sagrado em dois anos.
Adolf Sanz Monfort, de 44 anos, é um dos amigos da Espanha que está ajudando no projeto da gravação do CD e documentário. Ele explica que o projeto começou já há alguns anos e que o intuito é dar visibilidade ao que os indígenas alegam.
“Como temos experiência com música, resolvemos fazer um CD todo dentro do resgate da tradição cultural deles, a língua e o fortalecimento da cultura. Dentro de um projeto para fazermos um financiamento coletivo na internet para conseguirmos ajuda das pessoas do mundo para apoiar esse projeto. Daí surgiu a ideia de um documentário contando a história do povo. O propósito é pedir ajuda financeira para que eles tenham dinheiro para comprar as terras sagradas”, conta.
Monfort faz parte da Associação Guardiões da Amazônia, que tenta guardar a cultura e as tradições espirituais indígenas. “Achamos muito importante manter esses povos com suas tradições e com a floresta intacta. É muito importante para o mundo manter os povos indígenas em suas terras, assim como manter a floresta em pé para o equilíbro ambiental”, finaliza.
Terra é avaliada em R$ 500 mil
O coordenador da Funai na região, Luiz Souza, explica que a terra é tratada como sagrada porque era onde se encontra a maloca dos antepassados da etnia. Ele explica que a venda da terra está negociada em R$ 500 mil.
Ele diz ainda que a Funai apoia a forma como os índios estão tentando readquirir a terra e acredita que o projeto também é uma contribuição para o conhecimento cultural sobre o povo.
“O CD com músicas e o documentário registram e divulgam o que significa o pleito dos Poyanawa por essa área que ficou de fora do seu limite. Estamos acompanhando todo o processo, fazendo visitas constantes para que os Poyanawa não sejam prejudicados neste processo”, garante.