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No AC, hansenianos eram isolados e enterrados em cemitério separado

dsc_2738Cruzes, túmulos abandonados, lixo e muito mato. É assim que se encontra atualmente o Cemitério Castanheira, que guarda a lembrança de um período doloroso em que os hansenianos eram excluídos da sociedade devido à doença, tanto na vida, como na morte.


O cemitério, que tem ao menos 30 sepulturas, fica no bairro Remanso, em Cruzeiro do Sul. O coordenador do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), Manoel Alves da Silva, acredita que a necrópole exista desde a década de 50 e era de responsabilidade da igreja católica, que também http://ecosdanoticia.net/wp-content/uploads/2023/02/carros-e1528290640439-1.jpgistrava a colônia Hernani Agrícola.


Naquela época, os hansenianos eram obrigados a viver isolados em hospitais-colônia ou em seringais. Silva explica que o preconceito perseguia os pacientes mesmo após a morte.
“O preconceito era tão grande que os chamados ‘leprosos’ não podiam ser enterrados no mesmo local que as pessoas sadias”, lembra.


Com isso, aos poucos, foi se montando no bairro Remanso um cemitério voltado apenas para as vítimas da hanseníase. Ainda segundo Silva, o objetivo era ter um espaço digno para essas pessoas, mas a realidade atual é outra.


Atualmente, as sepulturas estão cobertas por lixo e mato. Até mesmo uma capela que compõe o cemitério está em ruínas. A aposentada Maria da Glória Oliveira, de 63 anos, é vizinha do cemitério há mais duas décadas. Ela revela que, mesmo com o abandono, familiares ainda buscam prestar homenagem aos familiares.


“Os próprios familiares vêm e fazem a limpeza. Quando cheguei aqui, o preconceito era bem mais forte. O exemplo é esse cemitério que separava, mesmo depois de mortas, as pessoas”, destaca.


O secretário de Limpeza Pública do município, Sérgio Moura, explica que a prefeitura faz a limpeza do local anualmente, mas que não foi possível este ano. “Todo ano fazemos a limpeza, só que esse ano não deu para fazer porque tivemos alguns contratempos”, diz.


O aposentado Edmar Maciel da Rocha, de 76 anos, tem um irmão enterrado no cemitério dos hansenianos. Ele e o irmão foram acometidos pela doença no final dos anos 60. Segundo Rocha, o isolamento e o preconceito foram cruciais para que existisse um cemitério isolado.


“Só para se ter uma ideia ninguém se sentava na frente de um leproso, não podíamos trabalhar e onde andávamos as pessoas se escondiam”, conta.


Rocha diz ainda que ainda sente muito o preconceito hoje em dia. “Quando você está em uma roda de amigos, chega alguém e essa pessoa pega na mão de todo mundo menos na sua, isso dói, machuca demais”, revela emocionado.


Por fim, o aposentado diz que seu maior sonho é conseguir ver o cemitério dos hansenianos restaurado e um local de descanso digno para aqueles que enfrentaram o isolamento e a exclusão mesmo após a morte. “Seria muito bom ver isso, um sonho. Foram pessoas que sofreram muito até o fim e que mesmo depois de mortas foram esquecidas”, finaliza.


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