O futebol argentino parece cada vez mais perto de entrar em colapso. Nas últimas horas, cresceu um movimento que defende que os clubes entrem em greve, em consequência do corte de 30% dos repasses da Associação Argentina de Futebol (AFA) aos clubes pelos direitos de transmissão do torneio. Além disso, a chamada Comissão Normatizadora, que comanda a AFA desde junho, perdeu todo seu respaldo político.
Em reunião na terça-feira à noite em Ezeiza, na sede da AFA, diversos dirigentes sugeriram a greve. Hernán Lewin, presidente do Temperley e um dos líderes dos clubes pequenos da Argentina, disse ao Clarín que “a qualquer momento o futebol argentino vai explodir”. “Há 20 equipes que não têm mais como subsistir”, afirmou ele, reclamando que, em outubro, os clubes receberam metade do valor que pleiteavam ganhar.
O governo federal está diretamente envolvido nessa crise. Desde 2009, a transmissão dos jogos do futebol argentino é estatizada. Todos os jogos são transmitidos gratuitamente na região metropolitana de Buenos Aires e as transmissões, em canais públicos, sempre fizeram propaganda do governo da presidente Cristina Kirchner.
Desde que assumiu a presidência da Argentina, em dezembro do ano passado, Mauricio Macri tem defendido o fim do programa. Os clubes apoiaram a ideia e chegaram a lançar um manifesto pedindo liberdade para assinarem com uma empresa privada, que pagaria melhor. A partir de dezembro, já está definido, o Fútbol para Todos acaba.
Uma das chaves dessa relação entre Macri e os clubes era Armando Pérez, ex-presidente do Belgrano, de Córdoba, e escalado pela Fifa, com o aval do presidente, para comandar a Comissão Normatizadora. A Comissão, porém, tem sido alvo de críticas de todos os lados. A avaliação geral é que ela chegou lá para aprovar novos estatutos e preparar novas eleições, mas não fez nem uma coisa nem outra.
Por isso, os clubes das três primeiras divisões do país lançaram mais um manifesto, terça à noite, exigindo que a Comissão deixe logo o poder para quem de direito. “Estamos perdendo presença na Conmebol e na Fifa”, reclamou Daniel Angelici, presidente do Boca Juniors.
Ao Clarín, Angelici, que substituiu Macri na presidência do Boca, protestou ainda pelo fato de a Comissão não ter revisto nenhum contrato e ainda ter mexido, negativamente aos clubes, no acordo do Fútbol para Todos. A cobrança dos clubes é que as eleições sejam convocadas “o quanto antes”, no mais tardar no início de 2017.