Com vaivém em negociações, Iêmen segue imerso em guerra civil

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A delegação do governo iemenita anunciou nesta segunda-feira (1º) sua saída do Kuait, onde participava de negociações de paz para encerrar seu longo -e esquecido- conflito civil.


Os negociadores do governo aceitaram a proposta feita pelas Nações Unidas. Os rebeldes da milícia huthi, no entanto, recusaram os termos, que incluíam sua retirada de três cidades iemenitas tomadas durante embates, incluindo a capital, Sanaa.


As discussões entre governo e a milícia huthi têm se prolongado há meses, enquanto o país enfrenta uma grave catástrofe humanitária.


Apesar da escala da crise nessa pequena nação, no sul da península Arábica, a guerra ainda parece arrastar-se silenciosa pelas margens da história.


Organizações internacionais denunciam os abusos e a barbárie, em um país já anteriormente empobrecido, mas o Iêmen, por diversas razões – incluindo a política -, ainda não ganhou espaço de destaque no debate público.


“É inaceitável que o Iêmen não receba a mesma atenção que a Síria”, diz à reportagem Will Turner, chefe da missão dos Médicos Sem Fronteiras no país. “Há um impacto de longa duração na população, com pouca resposta internacional.”


Os Médicos Sem Fronteiras atuam em hospitais em oito regiões do Iêmen. Desde março de 2015, essa organização tratou mais de 40 mil pacientes feridos pela guerra.


Segundo Turner, o Iêmen carece hoje de visibilidade. As levas de refugiados sírios cruzando o Mediterrâneo rumo à Europa ajudaram a colocar aquele conflito em discussão, infiltrando a política e exigindo soluções rápidas.


Iemenitas, por outro lado, não deixam o país com a mesma intensidade e frequência, em parte por restrições geográficas -esse país não tem acesso direto ao Mediterrâneo, por exemplo.


“O triste é que os iemenitas também gostariam de tentar chegar à Europa, e isso colocaria o Iêmen no mapa”, afirma Turner. “Eles simplesmente não são visíveis porque o sofrimento e o impacto do conflito está hoje contido dentro do país.”


A ONU estima que mais de 3.000 civis tenham sido mortos no confronto iemenita, com 2,8 milhões de pessoas deslocadas internamente. Mais de 80% dessa população precisa de algum tipo de assistência humanitária, incluindo alimento, água, abrigo, combustível e saneamento.


“Hospitais e clínicas não estão funcionando adequadamente. Não há suprimentos. Não há condições de trabalho”, diz Turner. Diversas instalações dos MSF foram atacadas no Iêmen, assim como na Síria.


Em alguns dos casos, há indícios de ataques deliberados.


POR QUÊ?


À reportagem o pesquisador iemenita Farea al-Muslimi, ligado ao Carnegie Middle East Center, diz que se pergunta todas as manhãs: “Por que ninguém se importa com o Iêmen?”.


“O Iêmen chegou tarde ao show. Quando virou notícia, já havia guerras na Síria, no Iraque”, diz. Além disso, segundo o pesquisador, há menos interesse internacional por essa nação empobrecida.


“Há menos controvérsia. Não é a Síria. Não há polarização entre os EUA e a Rússia.”


“Temos que esperar uma história como a do menino sírio que morreu na praia turca.


Até vermos essa foto, ou navios chegando à Europa, ninguém vai se preocupar com o Iêmen”, afirma.


CONTEXTO


O conflito no Iêmen é uma das reviravoltas registradas após as manifestações populares de 2011 no Oriente Médio. O então ditador Ali Abdullah Saleh foi forçado a renunciar.


Iemenitas reuniram-se em um diálogo nacional para discutir o futuro do país, no que foi visto como um exemplo para a região.


A transição, no entanto, foi menos auspiciosa do que o esperado. Em 2014, a milícia radical houthi -em constante atrito com o governo- tomou a capital, Sanaa, e no início do ano seguinte decidiu dissolver o Parlamento.


Em 2015, o confronto escalou, com a entrada de outros atores regionais. Uma coalizão liderada pela Arábia Saudita passou a bombardear posições dos houthi.


Os houthi são aliados do ex-ditador Saleh e supostamente apoiados pelo Irã e pela milícia xiita libanesa Hizbullah. Assim, a guerra espalhou-se por esse país e tornou-se internacional.


A situação é dificultada também por um complicado emaranhado de divisões religiosas e relações tribais. O Iêmen abriga, além disso, uma das franquias mais violentas da rede terrorista Al Qaeda, para quem o caos político é uma oportunidade para fortalecer-se. Com informações da Folhapress.


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