Catraieiros têm queda no faturamento com seca histórica do Rio Acre

catraiaUm dos meios de transporte mais antigos utilizados pelos acreanos também está sendo afetado pela seca histórica que atinge o estado. A catraia, barco de pequeno porte utilizado para atravessar o Rio Acre de um lado para outro, é utilizada cada vez menos devido as longas descidas para chegar até as margens do rio. O nível do Rio Acre, nesta quarta-feira (10), é 1,36 metro.


O G1 visitou dois portos em Rio Branco e ouviu a opinião dos catraieiros sobre o momento vivido pelos acreanos. O serviço é utilizado na maioria das vezes por quem trabalha no outro lado da cidade.


A viagem, de um porto a outro, leva de dois a três minutos no verão e no inverno pode chegar até 10 minutos, devido aos balseiros.


Catraieiro há 22 anos, José Roberto de Oliveira, de 41, trabalha no Porto da Catraia do bairro Quinze, Segundo Distrito da capital acreana. O transporte das pessoas é feito para o bairro Aeroporto Velho.


“Todo o ano o movimento de passageiros cai no verão, mas esse ano está muito ruim. As pessoas não querem descer as escadas porque estão muito longas. Quando vêem o tamanho, logo desistem “, lamenta Oliveira.


A escada que o catraieiro menciona é utilizada pelos passageiros para chegar até uma das margens do rio, pegar a embarcação e viajar até a outra margem. Conforme o trabalhador, a escada mede mais de 50 metros de comprimento e a tendência é aumentar .


“Vamos ter que colocar uns pedaços de madeira para as pessoas descerem. Com o rio descendo cada vez mais, a distância até a margem fica maior e vamos colocar mais degraus”, pontua.


Oliveira divide o porto com mais um companheiro e o serviço é feito por meio de escala. Ele diz que quando o rio está cheio fatura até R$ 80 por dia, nesse período, porém, o lucro chegado no máximo a R$ 30 diariamente, valor que é ainda dividido.


“A canoa é do meu pai, então divido todo o dinheiro com ele. Trabalho das 5h às 11h, vou em casa e volto às 15h. Fico até às 21h trabalhando”, detalha.


Cliente fiel
Mesmo tendo que enfrentar a longa escadaria no porto, a atendente Antônia de Araújo, de 44 anos, diz que a catraia facilita para ela chegar cedo ao trabalho. Antônia diz trabalhar em uma loja no Segundo Distrito da capital acreana e conta que economiza no transporte.


“Utilizo há 3 anos. Gastaria R$ 12 e com a catraia gasto só R$ 3. Mesmo tendo que subir e descer essas escadas a catraia ainda é a melhor opção”, afirma.


Aposentadoria
Colega de profissão, Zeno Rodrigues, de 64 anos, fica alguns a metros de distância do porto onde Oliveira trabalha. O idoso faz transporte do bairro Taquari para o Aeroporto Velho. Ele diz ganhar menos de um salário mínimo por mês com o trabalho de catraieiro e reclama da falta de passageiros.


“A escada aqui não é tão grande. É no barranco mesmo. As pessoas acham ruim também. Tem dia em que ficamos até duas horas parados sem transportar ninguém. Já contei no relógio o intervalo de uma viagem para outra. Cada dia cai mais o movimento”, relata o idoso.


Desanimado, o catraieiro diz acreditar que nos anos seguintes a situação deve piorar. Tem dia que não transporto nem 30 pessoas. Já avisei para o meu chefe que ano que vem vou sair desse ramo. A crise também tem culpa nessa queda”, avalia.


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