Parcialmente interditado, desde o último dia 30, para receber presas de outras comarcas, o Presídio Feminino Guimarães Lima, em Cruzeiro do Sul, interior do Acre, é alvo de reclamações por parte das internas. Ao todo, 38 detentas se dividem em 12 celas.
G1 foi até à unidade prisional, acompanhado pelo promotor Iverson Bueno, autor do pedido de interdição, e pelo juiz da 2ª Vara Criminal do município, Hugo Torquato, que acolheu a demanda, para ver a situação de perto.
As detentas reclamam que não há banho de sol, da qualidade da alimentação, falta de remédios e profissionais e superlotação, entre outras questões. Em nota, o Instituto de Administração Penitenciária (Iapen) diz que está “buscando meios para atender às questões apresentadas pelo Judiciário”.
Superlotação
Até a interdição, o presídio recebia presas provisórias e definitivas das cinco cidades do Vale do Juruá, além de Tarauacá, Feijó, Jordão e Sena Madureira. No pedido formulado pelo Ministério Público do Acre (MP-AC) essa situação é apontada como causa de vários problemas na unidade.
As internas chegaram a realizar, nos dias 16 e 18 de maio deste ano, motim e greve de fome. Na ocasião, elas reivindicavam transferência para suas cidades de origem. O MP alegou na época da interdição falta de material de higiene básica, “como absorventes íntimos e outros itens de primeira necessidade”.
Uma das organizadoras desses atos é a jovem Jamile Carneiro, de 18 anos, presa há quatro meses por tráfico de drogas. Ela conta que foi transferida de Tarauacá para Cruzeiro do Sul e reclama das condições a que ela e as demais detentas são submetidas.
Comida com larvas
“Aqui não saímos de dentro das celas, não tem banho de sol, somos maltratadas. Nós que não somos de Cruzeiro do Sul somos humilhadas pelas agentes, na comida até tapuru já veio”, denuncia.
Jamile diz que no dia em que os motins ocorreram, as presas que participaram teriam sido agredidas pelas agentes. “Elas desligaram as câmeras e bateram na gente. Minha colega teve a perna quebrada, puxaram ela do beliche, eu fui enforcada”, reclama.
Segundo o juiz, os problemas na unidade são antigos. “A interdição se deve a superlotação decorrente do envio dessas pessoas para o município e também devido à falta do banho de sol, que é direito delas. O Judiciário cobra frequentemente, temos processos http://ecosdanoticia.net/wp-content/uploads/2023/02/carros-e1528290640439-1.jpgistrativos por causa desses problemas como falta de atendimento médico, de medicação e até alimentação”, enfatiza.
Falta de Medicamentos
Outro problema recorrente é a falta de medicamentos e profissionais de saúde, tanto na unidade feminina, como na Unidade Penitenciária Manoel Neri, onde ficam presos os homens.
A situação foi motivo de reclamação em ao menos dois momentos, a primeira vez em dezembro de 2015 e a segunda em maio deste ano.
Em dos casos houve paralisação do serviço prestado pelas técnicas de enfermagem devido ao atraso nos pagamentos.
“A questão do salário foi regularizada. Sobre a medicação, a quantidade que mandam não supre a necessidade. Não tem medicamentos suficientes para entregarmos, estamos entregando apenas em casos de urgência”, lamenta a técnica de enfermagem Bárbara Cândido.
Para tentar amenizar a situação, ela, por conta própria, colocou em cada bloco de celas um aviso com medicamentos que não necessitam de prescrição médica para que as famílias possam comprar para as detentas.
“Os medicamentos acabam muitas vezes antes do prazo estipulado, que é de três a seis meses, e vamos nos postos de saúde com as receitas para ver se conseguimos”, diz.
Iapen diz que trabalha para sanar problemas
O Iapen afirma que as obras do solário da unidade Manoel Neri Da Silva, e da área para que os reeducandos possam receber visitas estão em execução.
Já com relação à alimentação, o Iapen alega que o cardápio é acompanhado por uma nutricionista e a comida “está dentro dos padrões”. Por fim, o Iapen nega que a distribuição de material de higiene esteja com problemas.
Na nota, o órgão não fala sobre os demais problemas, como superlotação e falta de medicamentos.
‘Choro todas as noites’
Maria Janiceda Silva, de 34 anos, está presa desde 2013 por assassinato. Ela conta que foi acusada de matar o ex-companheiro e pai de seus filhos e se emociona ao lembrar das crianças.
“Matei ele para proteger minha filha. Ele abusava sexualmente dela, cheguei a ver uma vez. Mas não tem um só dia que eu não me arrependa do que eu fiz, choro todas as noites, vivo a base de remédios controlados. Há três anos não vejo minha filha mais nova e ainda falta tanto tempo”, fala chorando.
Maria conta que a família do ex-marido assumiu a guarda da criança e diz que eles se mudaram para a capital do estado, Rio Branco. Segundo ela, ainda faltam 11 anos de pena de reclusão para poder reencontrar a família.
“Se eu pudesse voltar atrás faria tudo diferente, pelos meus filhos. Recomeçaria minha vida ao lado deles, esse é meu plano, reconstruir uma parte importante das nossas vidas”, finaliza.