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Práticas sustentáveis do Acre viram casos de estudo para grupo internacional

GUR_9800-580x387Trinta e cinco pessoas de 11 países estão no Acre de 4 a 8 deste mês para estudar situações no estado que conciliem desenvolvimento econômico, social e preservação ambiental.


Juntos eles formam a plantaforma New Generation Plantations (NGP), grupo existente desde 2007, formado por empresas privadas e órgãos governamentais da América, Europa, África e Ásia.


O governo do Acre passou a fazer parte do NGP em 2012, e com a Conferência do Clima em Paris (COP 21) no ano passado, laços foram se tornando mais estreitos, refletidos principalmente através dos dados ambientais do estado, que mantém 87% da sua cobertura florestal e reduziu 62% da taxa de desmatamento entre 2003 e 2012. Assim, junto com a WWF Brasil, o encontro foi organizado no Acre.


Como parte da programação, o grupo realizou nesta terça-feira, 5, visitas a alguns empreendimentos rurais que seguem a linha estabelecida de redução de emissões e preservação ambiental.


O gerente da NGP, o português Luís Neves Silva, ressalta que o foco é trocar experiências e que seus participantes possam tanto aprender quanto ensinar.


“Estamos visitando áreas dentro da floresta para descobrir como tem sido feita a produção sem destruir a floresta que existe e sem necessidade de abrir áreas novas. Queremos compreender esse modelo que utiliza plantações dentro de uma perspectiva de baixo carbono, além de formas de viabilizar a atividade econômica e os componentes sociais em que as famílias sejam integradas, gerando emprego. Vamos levar o aprendizado do Acre”, explica.


Açaí em larga escala

A primeira parada do grupo foi no latifúndio de José Augusto Faria, em Sena Madureira, que possui a maior plantação de açaí do Acre, com 100 hectares de pés da fruta.


A propriedade pertence à família de José Augusto há 130 anos, e desde que a assumiu ele já pensava num projeto de agricultura voltado ao açaí.


Com o apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), ele experimenta um açaí desenvolvido no Pará e estudado há mais de 30 anos.


Ainda assim, tanto seu objetivo quanto o dos pesquisadores é desenvolver um açaí próprio para o Acre, mesmo que isso ainda leve tempo.


“Os meus pais eram paraenses, e eu fui criado com essa cultura do açaí desde então. Quando abri a fazenda, senti que o mundo começava a procura do açaí, que tem grande viabilidade econômica, e é o que eu estou tentando aqui de certa forma, além de ter a questão social e ambiental na região”, conta.


Para se ter uma ideia do impacto, com a plantação de açaí e 350 hectares dedicados à piscicultura com manejo de águas, José Augusto chegou a empregar mais de 70 pessoas, mesmo que alguns desses empregos sejam temporários, de acordo com a safra. Já com a pecuária, que ainda ocupa a maior parte de suas terras, são empregadas menos de 20 pessoas.


A floresta de seringueiras

A segunda parada do grupo foi na propriedade de Paulo Sérgio Radaiele, no Bujari. Mesmo com 1.250 hectares de terra, 56% deles são de reserva legal.


Radaiele e a família dedicam então 500 hectares à pecuária, mas o produtor, que veio do Paraná, aposta na diversificação e há alguns anos aderiu a um antigo programa do governo federal que incentivava a plantação de florestas de seringueira, dedicando 42 hectares para a produção.


“Não sou ‘doutor’, mas fiz escola agrícola, e o meu sonho sempre foi ter uma fazenda sustentável, com muita diversificação. Sempre acreditei em produtos da região. Procurei a Embrapa e fizemos um campo experimental de seringueira com 14 tipos de clone. Foi um casamento de conveniência”, brinca o produtor.


O Brasil consome 413 mil toneladas de borracha do látex por ano, mas produz apenas 180 mil. Ainda assim, mesmo plantando uma pequena floresta, com árvores de mais de sete anos em que já é possível colher o produto, Radaiele tem sido atingido pela crise econômica que assola o país e o preço da borracha, que é uma commoditie com cotação internacional.


Flávio Quental, analista de conservação da WWF, aproveitou ainda para dar um panorama das intenções do NGP. “Temos que lembrar que nosso objetivo aqui é ir além daquilo que é o bonito, daquele que está tudo perfeito, mas também encontrar dificuldades e desafios para discutir soluções e aperfeiçoamentos de projetos que valem a pena como este”, diz.


Análise contínua

A plataforma NGP é um lugar para aprender sobre como melhorar o manejo de plantações por meio de experiências reais e influenciar os outros a seguir bons exemplos.


O grupo, formado por pessoas que representam 15 entidades, realiza duas visitas por ano. É a primeira vez que estão no Acre e já passaram por países como Chile e África do Sul, além de já terem visitado a Bahia.


Luís Neves Silva aproveitou para elogiar o trabalho do governo do Estado nesse sentido. “Eu achei muito interessante o modelo adotado no Acre de parcerias público-privado-comunitárias. Creio que esse é um modelo inovador, tendo uma dimensão social capaz de distribuir melhor as riquezas.”


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