‘Desmaiei e acordei com ele me chutando’, conta Bhrunna Rubby.
Caso ocorreu em Rio Branco, suspeito não foi preso e teria feito ameaças.
Por pouco o relacionamento de oito meses da microempreendedora transexual Bhrunna Rubby Rodrigues, de 29 anos, não terminou em tragédia. Na segunda-feira (18), ela foi espancada e recebeu golpes com um cabo de vassoura do namorado, de 18 anos. Imagens das agressões foram compartilhadas por ela junto com um desabafo em seu perfil no Facebook.
O G1 tentou ouvir o suspeito da agressão, mas não conseguiu até a publicação desta matéria. A mãe dele, que não quis se identificar, disse que desde o domingo (17) não tem notícias do rapaz.
A vítima conta que levou oito pontos na cabeça e ficou com escoriações por todo o corpo. O caso foi registrado na Delegacia da Mulher (Deam) em Rio Branco, os dois devem ser chamados a prestar depoimento.
“Estava em um compromisso religioso e passei o dia fora. Mais cedo havia ligado para ele, que me disse que estava na casa da mãe. Quando estava indo para casa, liguei para ela para avisá-lo e ela [a mãe dele] me disse que ele não tinha ido lá. Descobri que ele havia mentido”, conta Rubby.
A microempreendedora diz que como já havia descoberto outras mentiras que ele teria contado e casos de infidelidade resolveu confrontá-lo.
“Fui perguntar porque ele havia mentido e ele já veio me agredindo verbalmente. Então, disse: ‘a partir de agora não quero mais brigar com você. Estou tomando uma decisão, quero ir embora e vamos nos separar’. Aí ele me trancou dentro do apartamento e já veio me batendo, me deu vários socos no rosto e no abdômen, tentou me enforcar”, diz.
‘Ninguém me ajudou’
Rubby diz que conseguiu se desvencilhar e foi então que o namorado pegou uma vassoura e começou a agredí-la.
“Tentei sair do prédio, mas o portão estava trancado. Então ele ficou me batendo no pátio dos apartamentos. Eu gritava para os vizinhos, mas ninguém me ajudou. Até que em um momento ele acertou o cabo da vassoura na minha cabeça. Eu desmaiei e acordei com ele me chutando”, lembra. A vítima relata que ao ver o sangue que escorria da cabeça dela, o namorado fugiu.
Essa não teria sido a primeira vez que o rapaz a agrediu. “A gente tinha uma boa convivência, só que às vezes ele apresentava um comportamento agressivo. Já tinha me batido, mas agressões leves, já havia me empurrado e dado tapas no rosto”, salienta.
Preconceito
A agressão física não foi a única violência sofrida pela transexual. Ao procurar a Unidade de Pronto Atendimento do bairro Sobral, ela, ainda fragilizada, teve de lidar com o preconceito. Ela conta que apesar de há 12 anos ter um nome social, na triagem os atendentes cadastraram o nome de registro dela. Uma situação que causou constrangimento.
“O enfermeiro estava me atendendo e ficava me chamando de ele. Eu disse: ‘olha, sou transexual, meu nome social é Rubby. Aí ele disse ‘é que eu não tenho costume com essas coisas. Não sei não’. Já o médico estava mais preparado e entendeu”, conta ela.
Procurada pela reportagem, a Secretaria de Saúde lamentou o ocorrido e disse que vai entrar em contato com a direção da unidade para que o caso seja apurado. “Repudiamos com veemência qualquer tipo de preconceito, ainda mais com uma pessoa que está fragilizada”, disse o órgão em nota.