Depois de sete meses de distanciamento e momentos de tensão com o governo de Mauricio Macri, o papa Francisco tentou atenuar os rumores de que não se dá bem com o mandatário argentino.
“Não tenho nenhum problema com o presidente Macri. Não gosto de conflitos. Já cansei de repetir isso”, disse ao jornal “La Nación” em entrevista publicada neste domingo (3).
O pontífice afirmou, sem dar detalhes, que em apenas uma ocasião teve uma discordância com Macri, quando ainda era arcebispo de Buenos Aires e o presidente, chefe de governo da capital. “Sobre alguns outros problemas, falamos e resolvemos privadamente”, acrescentou.
A rejeição, em junho, a uma doação feita pelo governo argentino para uma entidade educacional impulsionada pelo papa havia ampliado o debate no país sobre a relação fria entre os dois líderes e havia sido vista como mais um desentendimento entre a Casa Rosada e o Vaticano.
Francisco, porém, disse que a decisão de devolver o dinheiro (o equivalente a R$ 3,6 milhões) foi tomada para evitar “eventuais tentações ou erros [de corrupção]” por parte dos diretores da entidade. “Continuo acreditando que não temos direito de pedir um peso ao governo argentino quando esse já tem tantos problemas sociais para resolver.”
Desde que Macri assumiu a Presidência, em dezembro, comenta-se que o papa preferia que o candidato de Cristina Kirchner, Daniel Scioli, tivesse vencido as eleições. À época, a ausência dos cumprimentos do pontífice ao novo presidente foi questionada. O Vaticano, porém, respondeu não enviar mensagens nessas ocasiões.
Em maio, o pontífice recebeu a presidente da associação Mães da Praça de Maio, Hebe de Bonafini. Inimiga de Macri, Bonafini já o insultou inúmeras vezes, chamando-o de “cagão”. A presidente da entidade é próxima de Cristina Kirchner, de quem recebeu apoio político e econômico.
Bonafini também mantinha uma péssima relação com o papa -dizia que ele representava a volta da ditadura. Mesmo assim, o pontífice se encontrou com ela, o que, segundo a imprensa argentina, não agradou o governo.
“Foi um ato de perdão. Ela me pediu perdão e eu não neguei. Não nego para ninguém”, afirmou o papa ao “La Nación”.
Ainda segundo o diário, Francisco mostrou estar bem informado de tudo que acontece em seu país, incluindo o resultado de pesquisas sobre sua popularidade entre argentinos. Duas consultorias fizeram recentemente um levantamento que apontou que o pontífice tem a simpatia de 75% da população.
Não houve, entretanto, comentários sobre uma pesquisa da Management & Fit que indicou que, enquanto 42,2% dos argentinos dizem acreditar que o papa é mais próximo de Cristina Kirchner, apenas 2,7% afirmam ver uma melhor relação entre Francisco e Macri. Outros 37% defenderam que o pontífice é imparcial.
Especialistas em religião e política afirmam que as divergências entre Macri e Francisco aparecem porque os discursos deles são muito diferentes. Enquanto o presidente adota uma política favorável ao capitalismo, o papa condena a globalização e o neoliberalismo.
Também neste domingo, o jornal “Perfil” destacou que o pontífice não deverá viajar à Argentina em 2017, como se esperava. O papa nunca esteve no país desde que assumiu o principal posto da Igreja Católica, em 2013. Com informações da Folhapress.