‘Não consigo me olhar no espelho’, diz jovem que passou por três cirurgias.
Casal pretende processar Estado e médico por danos morais e estéticos.
Ter um parto normal era um sonho para Luane Maria da Silva, de 20 anos. Mas nem tudo saiu como planejado e ela teve que passar por uma cesariana no dia 21 de junho, no hospital Santa Juliana, em Rio Branco.
Ela afirma que teve o intestino grosso perfurado após a cirurgia e, mesmo se queixando de dores, recebeu alta da unidade. Em 15 dias, Lauane conta que passou por três cirurgias.
O G1 entrou em contato com o Hospital Santa Juliana e foi informado, por meio de nota, que abriu investigação para apurar o ocorrido. A unidade de saúde disse ainda que está à disposição para esclarecer quaisquer dúvidas da paciente e de seus familiares.
“A paciente Luane da Silva recebeu alta hospitalar após realizar uma cesariana e não retornou à unidade, bem como não registrou nenhuma reclamação nos canais de atendimento da instituição. O HSJ ressalta, ainda, que a parturiente recebeu todo o suporte médico disponível durante seu período de internação”, esclarece.
“Minha gravidez foi planejada por mim e pelo meu marido, era um sonho nosso. Era para ser um parto normal, optaram pela cirurgia, mas eu não queria. Hoje não consigo me olhar no espelho porque minha barriga está deformada”, lamenta Luane.
O marido da jovem, o vendedor Carlos Ribeiro, de 34 anos, acompanhou todo o sofrimento da mulher. Ele explica que após o parto, feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no hospital, a mulher ficou em um leito sentindo dores na barriga e, mesmo assim, recebeu alta três dias após o parto.
“As enfermeiras diziam que essa dor era normal, eram gases que ela tinha, era preciso andar para liberar. A gente veio para casa e ela ficou deitada. Quando foi de noite, por volta das 23h, ela estava gritando de dor, a barriga inchada e fomos para a Upa do 2° Distrito”, relata Ribeiro.
A mulher foi encaminhada para a emergência da UPA e submetida a um raio-X. “Quando o médico pegou o raio-X mudou a expressão e as enfermeiras já pegaram a cadeira de rodas. Ele encaminhou ela para a maternidade em uma ambulância do Samu e disse que tinha alguma coisa errada”, afirma o marido.
Na maternidade, segundo Ribeiro, um cirurgião foi chamado para avaliar Luane e disse que precisava abri-la novamente. Durante essa cirurgia, que foi realizada na madruga de 26 de junho, ainda conforme o marido, ficou constatada a perfuração no intestino grosso da paciente durante a cesariana.
“Ele tirou tudo [vísceras] e lavou, cuidou e tirou o pedaço perfurado. Fui no laboratório e fiz uma biópsia que consta no laudo que foi uma perfuração por bisturi. Ele salvou a vida dela na maternidade”, diz.
Após a segunda cirugia, Luane já estava bem e voltou para casa, mas 10 dias depois os pontos acabaram abrindo e uma terceira cirurgia teve que ser realizada, dessa vez no Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco(Huerb) no dia 5 de julho.
Agora, o casal que veio de Rondônia e vive no Acre há poucos meses resolveu entrar na Justiça para processar o médico e o Estado por danos morais e estéticos pelo suposto erro na cesariana que teria ocasionado as outras três cirurgias.
Processo
Os advogados do casal, Rodrigo Machado e Bruna Delilo, explicam que o processo será contra o médico e o Estado, pois todos os procedimentos foram realizados pelo SUS. O casal pede uma indenização de R$ 300 mil. “O processo é pelo erro médico, perfuraram o intestino dela, foi algo grave. Imagine, você vai ter o filho e perfuram seu intestino?”, questiona Machado.
O marido afirma que para o processo juntou todos os prontuários dos hospitais em que ela realizou as cirurgias. Apenas a maternidade não forneceu o documento.
“Até hoje eles não me entregaram, meus advogados foram lá, pressionaram e a diretora do hospital disse que sumiu e eles pediram um prazo até esta sexta-feira (29) para entregarem”, afirma o marido.
A Secretaria de Saúde do Estado (Sesacre) afirmou do G1 que a direção da unidade vai fazer a busca pelo prontuário e que todo o paciente tem o direito de tirar o documento quando precisar.
A Sesacre informou ainda que a diretora da maternidade Bárbara Heliodora pediu que os advogados ou o marido a procurem novamente para verificar o que aconteceu, pois por algum motivo o prontuário não foi encontrado.
Com relação ao processo contra o Estado, a Sesacre explica que os profissionais que atuaram no parto não são do Estado, e que por ser do SUS, é um serviço comprado pelo Estado. Neste caso, a Saúde só poderá responder quando for notificada.
‘Minha barriga está deformada’, diz mulher após cirurgias
As três cirurgias que fez em apenas 15 dias deixaram em Luane o que ela menos queria durante a gravidez: marcas. Ela conta que desde o início da gestação tinha vontade de ter um parto normal. “Não consigo mais colocar um biquíni, uma blusa mais curta porque minha barriga está deformada, não consigo me olhar no espelho”, repete chorando a jovem mãe.
Além das marcas físicas, a série de cirurgias que precisou ser submetida também deixou marcas na memória. “Quando eu sinto dor já penso que vou ter que voltar para a sala de cirurgia, que vão me levar para o hospital. Era para eu ter uma rápida recuperação, mas ainda estou me recuperando, estou traumatizada. Tenho recaídas, sonho que estou em uma sala de cirurgia, acordo assustada na madrugada”, relata Luane.
O único desejo do casal nesse momento, segundo o marido, é justiça. “A gente quer que a Justiça seja feita. Queremos que esse médico não faça isso com outras pessoas. Que esse cidadão não possa mais exercer a profissão e que seja punido”, finaliza Carlos Ribeiro.