Após denúncias sobre as mortes de bebês na Maternidade Barbara Heliodora, em Rio Branco, representantes do Ministério da Saúde estiveram na unidade nesta quinta-feira (14) para analisar a estrutura oferecida as pacientes e os números de óbitos registrados entre 2014 e 2015. A visita foi acompanhada pelo secretário de Saúde do Acre, Gemil Júnior, pela direção da maternidade e representantes da Casa Civil, além de senadores e deputados.
Coordenadora geral da Saúde da Criança e Aleitamento Materno do Ministério da Saúde, Tatiana Coimbra, disse que durante a visita foram pontuadas algumas mudanças que precisam ser avaliadas, como a ampliação da unidade neonatal.
“Eles [direção] disseram que já é algo que estava sendo levantado, mas depende de uma autorização para que seja feita uma reforma maior. Já terminaram toda parte obstetra e vão fazer a neonatal, para que tenham um número maior de leitos”, detalha a coordenadora.
A coordenadora afirma que foi visitada a nova sala de ala de leitos da unidade, inaugurada recentemente pela direção, e percebido que a unidade disponibiliza de uma boa estrutura.
“A situação não está do jeito que esperávamos, por causa das denúncias. Fizemos uma avaliação na parte de entrada da maternidade. Eles fazem o atendimento pela classificação de risco, que é uma norma. A paciente é atendida conforme a classificação dela. Estivemos reunidos com as equipes, vimos que têm um esforço de preparação. A maternidade é até uma referência entre as outras do Brasil”, acrescenta.
A diretora da maternidade Rossana de Oliveira disse que a visita foi avaliada como um ponto positivo para a unidade, já que não foram encontradas irregularidades.
“Foi uma visita muito boa que veio aprovar o acolhimento na maternidade. Os dados de óbitos tem uma série histórica que vem reduzindo e aumentando a sobrevida em bebês. A ala de leitos foi aprovada tanto pelas autoridades e pelos representantes. Isso é muito bom para os servidores”, comemora.
Óbitos
Nos primeiros quatro meses de 2016, segundo o Sistema Assistência da Mulher e da Criança (SASMC), pelo menos 26 bebês morreram na única maternidade pública da capital.
Sobre essa situação, Tatiana afirma que o governo do Acre investiga os casos e o Ministério da Saúde está dando apoio na qualificação da análise.
“A distribuição dos óbitos aconteceu, principalmente, com os bebês com menos de mil gramas. Um dado esperado é que não se tem muitos pacientes com mais de 2,5 mil gramas que morreram em um ano na maternidade. Outras maternidades têm o mesmo porte e mostram um número mais elevado”, conclui.
Denúncias
Em abril deste ano, o Sindicato dos Médicos do Acre chegou a fazer denúncias sobre a unidade afirmando que a quantidade de médicos escalados era insuficiente para suprir a demanda. A Sesacre rebateu as acusações e afirmou que o número de médicos escalados estava correto e que cinco médicos atendem na maternidade diariamente.
Outro caso em que a família alegou negligência ocorreu em janeiro de 2016. Desta vez foi a dona de casa Maria do Carmo Lima Diniz, de 35 anos, que morreu após dar à luz a uma menina. De acordo com o marido, o pedreiro Antônio Armindo, de 41 anos, ela procurou a maternidade por três vezes em menos de uma semana se queixando de dor de cabeça e falta de ar.
Já em abril de 2015, a dona de casa Simone Santiago, de 28 anos, entrou em trabalho de parto e deu à luz na recepção da maternidade. Um vídeo feito por um cinegrafista amador, mostrava a mulher gritando de dor, enquanto era atendida por enfermeiros. Na época, a direção informou, por meio de nota, que não havia leitos disponíveis para a paciente.
Mortes ocorrem principalmente durante o parto, diz gerente
O Sistema de Assistência diz que o quantitativo do atendimento da população aumenta em média 15% ao ano e o número de mortes tem reduzido. Além disso, explica que em média 50% dos óbitos são de crianças com até 999 gramas, ou seja, menos de 1 kg, o que na maioria das vezes inviabiliza a manutenção da vida.
Taxa de mortalidade infantil e óbitos aumentaram nos últimos 5 anos
Se considerados os últimos cinco anos, período de 2011 a 2015, é possível detectar, através de dados do Departamento de Informática do SUS (DataSUS), que o Acre apresentou um aumento da taxa de mortalidade infantil. O ano de 2011 foi o que o estado apresentou a menor taxa, apenas 14,25%.
Os números aumentaram nos anos seguintes, registrando 16,63% em 2012, 16,45% em 2013 e 17,19% em 2014. A maior taxa dos últimos cinco anos foi de 17,60%, registrada em 2015. Em média, o aumento dos últimos cinco anos foi de 23,5%.
O mesmo ocorre com os óbitos de menores de um ano de idade que aumentaram em 13,2% em no mesmo período. Em 2011, o Acre registrou ao todo 257 mortes, em 2012 foram 279, em 2013 foram registradas 281. Em 2014 e 2015 os números aumentaram ainda mais, foram 292 e 291 óbitos respectivamente.
Nascidos vivos
Com aumento de óbitos, o número de nascidos vivos dos últimos cinco anos diminuiu. Enquanto em 2011, ano com a menor taxa de mortalidade infantil e óbitos no estado, nasceram vivos 18.040, em 2012 esse número caiu para 16.773 nascimentos.
Em 2013 houve um aumento para 17.084 nascidos, mas em 2014 houve novamente uma redução para 16.984 e em 2015 foram 16.533.