O nível cada vez mais baixo do Rio Acre trouxe à tona uma grata surpresa para os amantes de história. Nesta terça-feira (28), as águas atingiram a marca de 1,96 metros, a menor dos últimos 12 anos para este dia. Restos da Ponte Juscelino Kubitschek, ou ponte metálica como é mais conhecida, que desabaram na década de 70, ressurgiram em uma das margens do rio. As imagens foram clicadas pelas lentes do jornalista Marcos Vicentti, no domingo (26).
A ponte foi construída na década de 60, durante a gestão do então governador Jorge Kalume. As peças foram fabricadas pela Companhia Siderúrgica Nacional e sua inauguração unificou o 1º e o 2º Distrito da capital, até então, para ir de um lado ao outro da cidade, os moradores faziam a travessia em catraias.
“Entretanto, com o tempo, houve acúmulo de balseiros (restos de madeira que encalham no fundo do rio e dificultam o tráfego das embarcações, com risco até de acidentes) em um dos pilares próximo ao 2º Distrito e teve uma hora em que esse pilar ruiu e uma parte da ponte desabou”, explica o historiador Marcus Vinicius Neves.
Originalmente, a ponte possuía roldanas, já que a princípio ela seria levadiça para permitir a passagem de grandes embarcações a vapor. Essas peças também se soltaram e ficaram quase 30 anos submersas na margem do 1º Distrito da capital, até serem resgatadas em 2011 e utilizadas em um projeto arquitetônico, durante a reforma do Mercado dos Colonos, no Centro de Rio Branco.
Após a queda da ponte, o governo da época construiu uma ponte segurada por cabos de aço, que ficou conhecida como “baila comigo”, por causa do movimento que fazia. “Só mais de 10 anos depois no governo Nabor Júnior (entre 1983 e 1986) é que a ponte foi efetivamente consertada”, enfatiza.
Ainda segundo o historiador, o material não possui valor econômico. “Na verdade, não tem utilidade prática. A maior importância dessas peças é o testemunho de fatos que ocorreram na cidade”, finaliza.
Rio Acre deve atingir nível mais baixo em 45 anos
Há pouco mais de um ano, o Rio Acre impressionava ao atingir a marca histórica de 18,40 metros, durante a enchente histórica. Para se ter uma ideia, segundo boletim da Defesa Civil, o Rio Acre está 2,35 metros abaixo da média para o mês, que é de 4,31 metros.
O órgão aponta que, desde o primeiro dia deste mês, as águas sofreram uma queda gradual. No início de junho deste ano, o nível era de 2,71 metros.
Nesse ritmo, o Corpo de Bombeiros estima que até setembro, período de estiagem considerado mais crítico, o rio atinja o nível mais baixo dos últimos 45 anos. A causa da seca é a pouca quantidade de chuvas. Segundo o major Cláudio Falcão, do Corpo de Bombeiros, a probabilidade de melhores níveis pluviométricos é de apenas 5% para essa época.
“Não tivemos muitas chuvas e o nível do rio não se elevou tanto e, agora, essa água está fazendo falta. Temos meses mais críticos, que são julho, agosto e setembro, quando teremos um nível ainda mais baixo. Em 2011, tivemos 1,50 metros, foi o nível mais crítico. Esperamos que nesse ano possamos alcançar esse mesmo nível”, explica.
Desabastecimento de água
O Departamento de Pavimentação e Saneamento (Depasa) afirmou que existem problemas para captação, tendo em vista o baixo nível do rio. Durante esse período, o sistema para coletar a água é feito por meio de plataformas flutuantes, segundo o superintendente do órgão na capital, Miguel Félix. Um vídeo feito pelo G1, na sexta-feira (24), mostra a situação do manancial.
“Temos duas estações de tratamento que funcionam por captação por torres que ficam dentro do leito do rio. Pelas dificuldades da baixa do rio, atuamos hoje em dia com a captação por sistema de flutuantes”, falou.
No entanto, Felix garantiu que ainda não há problemas para o abastecimento. “Estamos tendo condições de manter a captação, o volume e tratamento para distribuição à população. Temos o conhecimento técnico para, mesmo nesse momento de crise de seca, continuar conseguindo bombear água”, diz.
Além disso, o gestor orientou sobre o uso consciente da água. “É da nossa cultura desperdiçar água com lavagem de calçada, rua e carro. Nesse período que é complicado tirar a água do rio, porque está muito seco para atender minimamente à necessidade, se as pessoas puderem colaborar é de grande valia”, finaliza.
G1 ACRE