A Maternidade Bárbara Heliodora, em Rio Branco, registrou as mortes de pelo menos três bebês em um espaço de 24 horas entre quarta (25) e esta quinta-feira (26). Em nota, a Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre), diz que em dois desses casos, os bebês já chegaram mortos à unidade.
Segundo a unidade de Saúde, o primeiro caso seria de uma indígena da cidade de Santa Rosa do Purus, a 300 km de Rio Branco, que teria viajado 48h de barco e chegou a maternidade com o feto já morto.
Já o segundo caso também seria de uma mãe do interior do estado. A mulher, que saiu de Capixaba, a 72 km da capital acreana, teria sofrido um aborto ainda em sua cidade natal e foi encaminhada para a capital.
Acusação de negligência
A terceira morte é o da filha que a atendente Danuzia Silva de Souza, de 32 anos, esperava. Grávida de nove meses,ela teria chegado na manhã desta quinta na unidade com dores na barriga, foi avaliada e pediu para ter o retorno médico antecipado. A filha de Danuzia foi retirada morta quatro horas depois.
A família acredita que a morte foi causada por negligência médica. A Sesacre afirma que “vai apurar com todo rigor investigatório pela secretaria, inclusive com o apoio do Ministério Público Estadual e de outras instituições de controle. Tão logo os fatos sejam esclarecidos, serão apresentados a sociedade”.
Uma das irmãs de Danuzia, a empresária Ytala Karleane, disse ao G1 que a família chegou a unidade de Saúde por volta das 5h30, antes mesmo do rompimento da bolsa. A paciente teria sido levada para sala de observação, onde o médico ouviu o batimentos da criança e marcou outra avaliação para quatro horas depois.
“Depois de um tempo fomos a recepção avisar que ela estava sentindo muita dor. Pedimos para que passassem ela na frente das demais, mas a moça do balcão disse que não podia porque o atendimento estava marcado apenas para às 9h. Minha irmã foi ao banheiro e quando retornou já tinham chamado ela. Eu avisei para a recepcionista e ela disse que passaria três mulheres na frente e disse que aguardássemos”, lembra.
Ainda segundo a empresária, a irmã foi atendida dez minutos após o horário marcado, mas a criança já estava morta. Danuzia tem dois filhos, de 3 e 14 anos, e aguardava ansiosa pela chegada do terceiro.
“Quando o médico viu que não tinha batimentos mandou levá-la imediatamente para a sala de cirurgia. Ela teve a bebê de parto normal às 9h15. Quando ela chegou, já estava dilatada 2 centímetros, sem a bolsa estourar. Se nesse momento tivessem induzido o parto, tinha ajudado minha sobrinha sobreviver”, revolta-se.
Ytala afirma que a família pretende acionar a Justiça, mas que isso será discutido em outro momento, pois a irmã está muito abalada. “Ela não está em condições de conversar sobre isso agora. A gerente disse que vão abrir uma sindicância, o prontuário será liberado em 48h e podemos acompanhar o processo”, diz.
26 mortes em quatro meses
O caso de Danuzia Souza aumenta o número de mortes de bebês na Maternidade Bárbara Heliodora. Dados do Sistema Assistência da Mulher e da Criança (SASMC) apontam que entre janeiro e abril desde ano pelo menos 26 bebês morreram na unidade.
O número é 42% menor que o registrado no mesmo período de 2015, quando 45 bebês morreram na unidade.
Em matéria publicada no dia 29 de abril, o diretor técnico do hospital, José Everton, afirmou que o caso do bebê de Cassia “não fugiu da realidade da maternidade”. Questionado pelo G1 se há um índice de mortes em maternidades considerável “normal”, o Ministério da Saúde disse, por meio de nota, que “utiliza uma classificação de evitabilidade de óbitos com o intuito de focalizar as ações naqueles que são mais facilmente evitáveis”.
O órgão não respondeu ao questionamento, mas afirma “que os dados de óbitos de recém-nascidos são repassados pela Sesacre, por isso, se a unidade afirma que os números estão dentro da normalidade, este é o dado que o Ministério possui registrado em seu sistema”.