Com o objetivo de auxiliar pequenos e microempreendedores informais na manutenção e crescimento de seus negócios, o professor do Centro de Ciências Jurídicas e Sociais Aplicadas, da Universidade Federal do Acre (Ufac), Carlos Estevão Ferreira Castelo, criou uma metodologia de capacitação de massa voltada a adultos que empreendem por necessidade.
A ideia, que surgiu em 2002, a partir de uma parceria com a consultora do Sebrae, Adriana Pinho, e o empresário Marco Túlio Rodrigues, ganhou repercussão e, hoje, é adotada por diversos estados do Nordeste, Centro-Oeste e até em Cabo Verde, na África.
Chamada Modelo de Capacitação para Empreendedores Informais (MDCE), a técnica desenvolvida pelo trio inspira-se, prioritariamente, na teoria visionária, proposta pelo pesquisador canadense Louis Filion. De acordo com essa corrente, as pessoas motivadas a abrir uma empresa vão criando, no decorrer do tempo, baseadas nas suas experiências, novas ideias de produtos.
“O conceito básico de Filion é que o empreendedor é aquele que imagina, desenvolve e realiza visões. Para ele, a visão é uma imagem, projetada no futuro, do lugar que se quer ver ocupado pelos seus produtos no mercado, assim como a imagem projetada do tipo de organização necessária para consegui-lo. Ser empreendedor não se limita a abrir um negócio”, sintetiza Estevão.
Segundo o professor, no Acre, a exemplo do restante do Brasil, a maioria das pessoas empreende por necessidade. Sem emprego e com pouca perspectiva de futuro, abre-se um negócio informal que, na maioria dos casos, acaba não avançando. “Empreender por necessidade não é problema. O desafio é transformar, com o passar do tempo, esse tipo de empreendedorismo no empreendedorismo por oportunidade, que implica expansão e identificação de novas ideias de negócio. Na prática, poucas pessoas desenvolvem essa capacidade, que não depende de conhecimento técnico, mas de comportamento; e é isso que a metodologia enfoca”, explica.
Projeto
O MDCE é uma oficina de capacitação de massa que envolve 200 participantes de uma única vez. O projeto inicial, que chegou a ser desenvolvido pelo Sebrae-AC, previa nove dias de curso, com carga horária de três horas diárias. Os participantes são distribuídos em dez grupos que ocupam espaços de aulas espelhadas, que facilitam o diálogo e interação entre os grupos.
No Nordeste, a metodologia, adotada inicialmente pelo Sebrae-RN, adaptou a carga horária para 15 horas, distribuídas em cinco dias. O MDCE trata de uma síntese de todas as competências e habilidades necessárias para o sucesso dos empreendedores, segundo conceitos de Filion e MacClelland. Desde sua criação, a nova técnica apresentou bons resultados. Apenas no Acre, foram formalizadas cem empresas a partir da realização da capacitação. A expansão da técnica para Nordeste e Centro-Oeste chama a atenção do Sebrae de cada local e de prefeituras. Na África, a mesma metodologia recebeu o nome de Oficina de Empreendedorismo.
“O Modelo de Capacitação proporciona uma ressignificação no processo de empreendedorismo. É uma grande oficina para estímulo de habilidades e competências empreendedoras necessárias à gestão de negócios. O grande benefício é ver que empregos estão sendo gerados, empresas nascendo e, principalmente, a identificação de oportunidades para os mais pobres”, comemora um dos criadores da metodologia.
Passo a passo para criação de um negócio
Durante o curso, os participantes são estimulados a implantar uma empresa real, obedecendo às etapas preconizadas por Filion:
- O empreendedor identifica um interesse por um setor de negócios;
- Ele, então, passa a compreender o setor escolhido;
- Descobre uma oportunidade neste setor;
- Visa a um nicho deste setor de forma diferenciada;
- Imagina e define um contexto organizacional;
- Estabelece seus alvos claramente;
- Planeja as ações necessárias para atingi-los;
- Investe;
- Inicia a operação;
- Consolida o negócio;
- Expande as operações.