Em 1996, o trabalho infantil no Brasil era representado por cenas de crianças e adolescentes trabalhando em carvoarias e vivendo em condições degradantes e inaceitáveis, lembra o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). A falta de renda das famílias e de acesso a escolas geravam esse tipo de situação. Com a criação do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) naquele ano e do Bolsa Família, em 2003, as famílias mais pobres e seus filhos começaram a viver uma nova realidade, conforme apontam os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2014, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Na década de 1990, o trabalho infantil tinha crianças de nove anos de idade trabalhando em carvoarias e em tantos lugares perigosos. Em menos de 20 anos, transformamos completamente essa realidade. Eu tenho orgulho em dizer que o Brasil erradicou o trabalho entre as crianças”, afirma a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello.
De acordo com o Portal Brasil, hoje, 80% do trabalho infantil está concentrado na faixa etária de 14 a 17 anos. A maioria desses jovens é do sexo masculino (65,5%), vive em áreas urbanas (69%), recebe remuneração (74,9%), trabalha em média 26 horas por semana e frequenta a escola. “As ocorrências hoje são de jovens maiores de 14 anos, nos grandes centros”, explica Tereza Campello. “Tem um jeito fácil de erradicar o trabalho infantil no Brasil: levar jovens com mais de 14 anos para a aprendizagem e formalizar nossos jovens. Eles poderão continuar trabalhando, com mais qualidade, em segurança.”
O MDS, em parceria com o Ministério do Trabalho e da Previdência Social, desenvolveu uma estratégia que amplia o acesso dos adolescentes de baixa renda à aprendizagem profissional. Os Centros de Referência de Assistência Social (Cras) e de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) em cada cidade mobilizam os adolescentes e os acompanham durante todo o processo de formação. E os auditores fiscais do trabalho atuam na identificação das vagas e sensibilização das empresas e na orientação do processo de efetivação do contrato de trabalho.
Questão cultural
Entre 2004 e 2014, o número de ocupados de 5 a 17 anos entre os pobres e extremamente pobres caiu 78%. Já entre o público de renda per capita acima de R$ 415 houve aumento de 33%. Destes, quase metade tem renda acima de R$ 830. “O que observamos são crianças e adolescentes acompanhando os pais no setor de comércio ou na agricultura”, explica a secretária nacional adjunta de Avaliação e Gestão da Informação do MDS, Paula Montagner.
Nesse novo perfil do trabalho infantil, as crianças e jovens têm acesso à educação. Em 2002, 32,1% dos 20% mais pobres estavam em idade escolar adequada. Em 2014, o número saltou para 58,2%, um aumento de 80%. Considerando os 5% mais pobres, entre 6 e 14 anos, 97,8% estão na escola. “Não estamos mais lidando predominantemente com crianças do trabalho infantil fora da escola. Ao contrário, elas estão majoritariamente na escola”, conclui Paula Montagner.