Os bolivianos rejeitaram neste domingo por uma apertada maioria uma reforma constitucional, votada em referendo popular, que mudaria a Constituição do país e permitiria ao presidente se reeleger duas vezes, segundo dados extraoficiais divulgados por canais privados de TV.
Assim, o presidente Evo Morales não poderá se candidatar a um novo mandato presidencial em 2019 e se manter no poder até 2025. Ele terá de passar a faixa presidencial quando finalizar seu terceiro mandato.
A emissora ATB deu a vitória ao ‘Não’ por 52,3% dos votos, contra 51% registrados pela concorrente, Unitel. O voto no ‘Sim’ teria obtido 47,7% segundo a primeira e 49% de acordo com a segunda.
Se os resultados extraoficiais se confirmarem, esta seria a primeira e mais séria derrota eleitoral direta do presidente boliviano, há dez anos no poder, embora em 2015 seu partido já tenha perdido cargos-chave nas eleições municipais.
No poder desde 2006, Morales já havia conseguido se reeleger duas vezes por força de uma vitória na Justiça do país, que o permitiu concorrer em 2014 ao considerar que seu primeiro mandato, até 2010, não entraria na conta por causa da promulgação da atual Constituição, em 2009.
“A Bolívia disse não!”, disse, eufórico, o governador de Santa Cruz (leste), Rubén Costas, líder de um setor da oposição, enquanto o ex-candidato presidencial Samuel Doria Medina, derrotado duas vezes por Morales, avaliou: “recuperamos a democracia e recuperamos o direito de escolher”.
“Hoje foi sepultado o projeto de transformar o nosso país em um projeto de um único partido. Esta é a vitória do povo”, disse Doria Medina, em coletiva de imprensa.
Mais cedo, o vice-presidente Álvaro García havia dito, antes de serem divulgados os resultados extraoficiais: “nós viemos do povo, acatamos o que o povo disser, apoiaremos o que o povo vá manifestar, vá decidir ou vá fazer agora e nos anos seguintes”.
A presidente do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), Katia Uriona, considerou que o dia de votação “transcorreu em absoluta normalidade”, exceto “um caso isolado” em Santa Cruz, onde alguns eleitores, incomodados com atrasos, queimaram urnas vazias.
Os centros de votação começaram a fechar às 16h00 locais (17h00 de Brasília).
Apesar de incidentes isolados, a missão eleitoral da Unasul informou em um comunicado valorizar que “a votação tenha transcorrido em um clima de absoluta tranquilidade”. O chefe da missão de observadores da OEA, o ex-presidente dominicano Leonel Fernández, considerou, ainda, que o processo transcorreu “normalmente em paz”.
“Saber se me querem ou não”Mais cedo, Evo Morales, o primeiro indígena a governar a Bolívia, votou na região de Chapare, no centro do país, e pediu “um recorde” de participação nas urnas.
“Meu grande desejo é bater o recorde de 2009, no qual participaram 96% dos eleitores. Seria um dia histórico”, declarou.
“Gostaríamos agora passar esta cifra, seria um dia histórico que pela primeira vez, com o voto do povo, se modifique uma Constituição e saber se me querem ou não”, disse.
Em uma consulta em que o voto é obrigatório, cerca de 6,5 milhões de bolivianos devem decidir sobre a reforma da Constituição, que autorizaria Morales a concorrer a outro mandato de cinco anos, de 2020-2025. Outros 300 mil bolivianos o fizeram do exterior.
O líder de esquerda, que iniciou seu primeiro governo em 2006 e que já foi reeleito duas vezes, detém o recorde de permanência no poder desde a independência do país, em 1825, apoiado em um sólido crescimento no país que aumentou a sensação de bem-estar de seus habitantes, além da reivindicação da população indígena.
Até a semana passada, os partidários da reforma constitucional para permitir que Morales se candidate a um quarto mandato consecutivo estavam empatados. Mas as acusações que o afetam diretamente começam a mudar o panorama e, segundo pesquisas recentes, os partidários do Não (47%) superariam os do Sim (27%).